Boêmia, Palco do Amor e da Guerra

Boêmia, Palco do Amor e da Guerra
Em meio a guerra religiosa do século XVII, um jovem casal de apaixonados vivem o sonho de um amor impossível. Ela protestante, ele católico! Conseguirão viver este amor? Boêmia, palco do amor e da guerra é um romance extremamente dinâmico, que fará você sorrir e chorar! nele, os paralelos estão lançados: Espiritual e físico, lealdade e traição, verdade e mentira, vida e morte, e principalmente, o amor e a guerra!

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Teatro: Festa das Palavras Figuradas


Adaptação: David Nepomuceno

          Certa vez, a Metáfora ofereceu uma festa nos salões de sua casa de campo 
semântico, entre a lista dos presentes, figuravam várias personalidades da 
Linguagem Figurada: a Hipérbole, a Antítese, a Prosopopéia e outras 
menos cotadas e conotadas. Como anfitriã, a Metáfora queria fazer boa figura
e ia de um campo semântico para o outro, a todo o momento, atribuindo sempre
outro sentido a tudo que fazia.
- Metáfora: Amor é um fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer...
          Dona Hipérbole ao entrar logo se fez notada:
- Hipérbole: Oiiiiiii genteeeeeee, nossaaaaaaa você está elegantíssima 
nesta roupa dona Prosopopéia! Vocês acreditam que já subi e desci estas escadas 
mais de mil vezes hoje? Porém, consegui o texto da grandessíssima, 
Cecília Meireles que diz:
“Brota esta lágrima e cai (…)
Mas é rio mais profundo
Sem começo e nem fim
Que atravessando por este mundo
Passa por dentro de mim”. 
         Enquanto dona Hipérbole, sempre exagerada, dialogava com seus amigos,
a senhorita Comparação, que é muito parecida com a anfitriã dona Metáfora a não ser 
pela falta de um conectivo, despejava comparações sem parar.
- Comparação: Já reparou que dona Hipérbole gosta de aparecer exageradamente, 
não é como a dona Elipse sempre oculta! E o senhor Polissíndeto é tão mala com
o seu e, e, e, como seu amigo Pleonasmo é com o seu: sobe para cima, desce para baixo!
          A Antítese, ora triste, ora alegre, servia com doçura os salgadinhos da festa, 
enquanto declamava os versos de Gregório de Matos:
- Antítese: Nasce o Sol, e não dura mais que um dia; 
Depois da Luz se segue à noite escura; 
Em tristes sombras morre a formosura, 
Em contínuas tristezas e alegrias.
         Dona Anáfora já meio doidona, repetia-se sem parar, no texto impecável 
de Manuel Bandeira:
- Anáfora:
Vi uma estrela tão alta,
Vi uma estrela tão fria!
Vi uma estrela luzindo
Na minha vida vazia.
Era uma estrela tão alta!
Era uma estrela tão fria!
Era uma estrela sozinha
Luzindo no fim do dia.

       Durante a festa foi apresentado um número de mágicas com a famosa Prosopopéia,
que fez os objetos inanimados andarem de um lado para o outro.
- Prosopopéia: Ande cadeira ande, com a graciosidade da mulher gaúcha,
porém, com a sensualidade da mulher carioca!
       Dona Elipse, escondida a um canto, mas, facilmente reconhecida, solitária observava 
o desfile da cadeira e lembrava Clarice Lispector:
- Elipse: Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas 
nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.
          Lá pelas tantas, o livro da dona da festa desapareceu e quando 
o senhor Eufemismo foi chamado para investigar o caso, não contradisse 
a sua fama de pessoa que procura ver a realidade por um lado mais suave,
e afirmou que não acreditava ser alguém capaz de se apropriar do alheio.
- Eufemismo: Não acredito que alguém aqui seja desprovido de caráter! 
Se houve apropriação indevida, significa que há entre nós, um apropriador do bem alheio!
         A partir desse momento, houve um burburinho só. Todas as figuras queriam encontrar
uma explicação para este fato desagradável. Quando tudo parecia caminhar para uma
tragédia, o senhor Polissíndeto apareceu e, e, e, e, e, afirmou que acabaria com o imbróglio
com um anuncio bombástico, antes, porém,  começou a explicar pausadamente e 
coordenando até demais os seus pensamentos, citava Carlos Drummond de Andrade.
- Polissíndeto:
"E sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes
e sob o sarcasmo
e sob a gosma
e sob o vômito!"

- Hipérbole: Vai ficar neste e, e, e, e, e para o resto da vida, ou vai solucionar o caso 
do furto do livro?
- Polissíndeto: Calma dona Hipérbole, não houve roubo algum, o senhor Pleonasmo que 
está ali no seu cantinho lendo o tal livro tranquilamente!
         Do outro lado da sala, o senhor Pleonasmo, ouvindo citar seu nome, 
usando palavras desnecessárias, mas, que julgava realçar o que dizia respondeu
prontamente:
- Pleonasmo: Estou lendo o livro com os meus próprios olhos! Depois de lê-lo, 
subo para cima, entro para dentro da biblioteca e o coloco para dentro da gaveta!
         Todos se voltaram para a festa com cara de tolos, enquanto seu Pleonasmo
continuava serenamente sua leitura!
         

domingo, 6 de novembro de 2011

Eu e Minha Janela



Por: David Nepomuceno


Eu e minha janela, que dobradinha arteira,
Vejo o mundo, o mundo não me vê.
Vejo seu Nicolau, que parece não esta legal,
Cambaleante, anda escorando aqui, e ali,
Olha para os lados, para frente e para trás.
Como diriam meus filhos: Caraca!
Fez xixi o velho Nicolau!

Eu e minha janela, que dobradinha arteira,
Vejo o mundo, e o mundo não me vê.
Vejo os moleques deixando desagradáveis marcas,
Nos muros e fachadas pobres e, indefesas, porém,
Há dias, que é da caça, ou devo dizer: Da fachada!
Ficarão bom tempo no estaleiro, por não lerem:
“Cão sardento, rabugento, neurótico e estressado.”

Eu e minha janela, que dobradinha arteira,
Vejo o mundo e o mundo não me vê.
Vejo dona Maria debruçada sobre o muro,
Imagina poder me fazer concorrência,
Vigia, olha, encara, debocha, provoca e fala,
Fala do Nicolau, fala dos moleques,
Só não fala que sua filha... Eu e minha janela!

Eu e minha janela, que dobradinha arteira,
Vejo o mundo e o mundo não me vê.
Vejo seu Ricardo esperto pulador de cerca,
Pulou do Juvenal, do Afrânio e do Amaral.
No futebol era a hora de dizer: Eu sou o tal!
Embora não saiba, ele é o tal,
Tal como... Afrânio, tal como Juvenal!

Eu e minha janela, que dobradinha arteira,
Vejo o mundo e o mundo não me vê.
Mas embora o mundo não me veja,
Acima do sol, também existe uma janela,
E nela coroado está um Deus,
Que vê até o que não é visível,
Que vergonha, na minha janela,
Meu Deus me vê, e há de me julgar,
Como julgo da minha janela,
A vida dos meus irmãos!