Boêmia, Palco do Amor e da Guerra

Boêmia, Palco do Amor e da Guerra
Em meio a guerra religiosa do século XVII, um jovem casal de apaixonados vivem o sonho de um amor impossível. Ela protestante, ele católico! Conseguirão viver este amor? Boêmia, palco do amor e da guerra é um romance extremamente dinâmico, que fará você sorrir e chorar! nele, os paralelos estão lançados: Espiritual e físico, lealdade e traição, verdade e mentira, vida e morte, e principalmente, o amor e a guerra!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Boêmia, Palco do amor e da Guerra.


Dedicatória:

Para você que passou pela minha vida,
E deixou marcas tão profundas que,
O tempo e a distância em vão tentaram apagar...

                 

"livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas.
Os livros só mudam as pessoas.”
Mário Quintana.





"Eu acredito no cristianismo como acredito que o sol nasce todo dia. 
Não apenas porque o vejo, mas porque através dele eu vejo tudo ao meu redor"
C. S. Lewis


Capítulo I

A conspiração


           Boêmia 1618 dC.
_ Senhores está tudo devidamente resolvido, dentro em breve teremos novos objetivos pela frente!
_ Sim senhor, apesar de que... Vocês ouviram isso?
_ Tem alguém aqui além de nós! Sargento!
_ Fique tranqüilo senhor!  - respondeu o sargento - Você e você fiquem e dêem proteção a sua santidade! O restante comigo.
          De todos os presentes à reunião, Josué foi o que mais se preocupou com os visitantes indesejáveis, pois, há anos vinha trabalhando disfarçado no meio dos protestantes, tinha uma boa posição entre eles, era respeitado e admirado, e suas descobertas eram extremamente úteis para consolidar a exterminação de uma doença chamada de protestantismo na região de Boêmia! Josué na verdade era padre Jesuíta, e como bom Jesuíta, não economizava esforços para vê a bandeira do Catolicismo Romano tremulando em toda parte do mundo civilizado, mesmo que isso significasse promover: morte, dor, separação, abater a liberdade de expressão e do direito! Também estavam na reunião: Cristiano de Médici conselheiro real, Padre Paulo, Lessa que era filho de um dos homens mais rico e poderoso da cidade, além de outras autoridades todas ligadas à igreja Católica.
_ Não se preocupe - disse o padre - sua identidade e o que tratamos não será revelado, o sargento sabe ser, digamos... Competente.
_ Assim espero padre, minha identidade revelada seria o fim de vários anos de árduo trabalho. - retrucou Josué muito preocupado.
          Fora da casa, à caçada aos intrusos era iniciada pela guarda do Cardeal e por homens ligados ao Lessa, estes eram assassinos frios e cruéis.
_ Sargento são dois, eles se separaram aqui! - gritou o cabo.
_ Siga-os com seus homens! Não preciso dizer que não poderá haver testemunha!
_ Sim senhor! Vamos, vamos.
          Enquanto corria, Josefo se maldizia por ter metido o nariz onde não deveria, afinal havia descoberto algo que se pego pagaria com a própria vida. No entanto, se escapasse quem sabe também poderia salvar muitas outras e denunciar aquele maldito traidor. Enquanto pensava e corria, sentia que seus algozes estavam cada vez mais perto. O terror o dominava, suas pernas pareciam travadas, insistiam em não obedecê-lo, estava gelado apesar de todo o esforço físico. A idéia de separar-se do Ted fora muito boa, pois, dividiria o inimigo e aumentaria as chances de sobrevivência, sorriu timidamente ao imaginar que poderia sair vivo e assim desmascarar aquele mentiroso.
          Ted tentava fugir seguindo ao norte, cometera um grande erro quando surpreendido com a presença do Josué esbarrou em uma portinhola denunciando sua presença e de seu amigo Josefo. Fugia agora por sua vida e pelas vidas de milhares de inocentes que não atinavam para o perigo que os rodeavam, um turbilhão de informações passava pela sua cabeça, não era tão inteligente como Josefo, entretanto, possuía uma resistência física invejável, conseguia manter uma boa velocidade por um tempo suficiente, para conseguir sair daquela situação com vida, isso lhe dava certa segurança. Tal segurança teve logo um fim, quando ouviu o som dos trotes de cavalo e latidos de cães farejadores. Ted desesperou-se, procurou respirar, achar uma saída, entrou na mata mais fechada, intentava com isso livrar-se dos cavalos, obrigarem seus caçadores a desmontar e persegui-lo a pé. Seu propósito parece que surtira efeito, ouvia os latidos dos cães a cada instante mais distante, nada poderia dar errado, ele certamente sairia com vida, precisava falar com alguém sobre o que ouvira, no entanto, quem seria confiável: Caleb, senhor Cláudio, Tim?  Continuou fugindo, achou a estrada que daria na cidade, sentiu-se seguro, foi seu segundo erro!
_Inteligência nunca foi uma virtude sua! Não é mesmo Ted? - Disse Conde apontando-lhe sua arma e satisfeito com sua perspicácia.
Surpreendido Ted entrou em desatino.
_Conde pelo amor de Deus, eu juro não vou contar nada a ninguém! - Ted chorava.
_Claro que não amigo! E por falar nisso, o que será que ele ouviu Lorde?
_Eu acho que ouviu o que não deveria Conde!
_Pois é... Eu sempre digo ser curioso em tempo de guerra é muito perigoso.
          Conde e Lorde eram dois assassinos dispostos a tudo que os levassem a uma rápida ascensão social. O primeiro era de estatura média, não amigo do asseio, mantinha seus cabelos sempre cumpridos assim como suas unhas que pareciam suplicar por uma boa limpeza, apesar de ainda jovem possuía um aspecto de homem bem mais velho, seu rosto era caracterizado por uma pele clara, barba sempre por fazer, boca pequena, que se escondia sob um grande nariz torto e olhos que não encastoavam a fragilidade do seu caráter. Lorde tinha em comum com seu amigo os olhos que o denunciavam, no entanto, era alto e extremamente magro, andava um tanto curvado, era vaidoso e asseado, mantinha sempre bem tratada sua barba e seu bigode era quase que diariamente aparado, suas roupas sempre limpas e engomadas, em suas botas viam-se os reflexos à distância. Apesar de todo o zelo com a apresentação, era um cruel assassino, se excitava quando suas pobres vítimas suplicavam misericórdia e caiam sem vida.
_Vamos lá amigos, não vi nada, não ouvi nada, além do mais, tenho certeza que vocês têm razão, está cidade está infestada de protestantes mesmos!
Sem dar-se conta, cometera seu terceiro erro seguido.
_Como não ouviu nada, e já tomou até partido daquilo que foi tratado? - perguntou Conde.
_Não ouvi... Digo ouvi, mas, estou do lado de vocês! - Ted voltava a chorar. Por favor, eu não quero morrer, eu não quero morrer!
          Lorde e Conde apeiam dos cavalos e manda que Ted se ajoelhe, este, num ato de desespero rompe em uma fuga suicida, consegue dar alguns passos antes que Conde e Lorde o acerte com dois disparos certeiros! Eles se aproximam, Lorde imerso em um misto de ódio e desprezo desvira o corpo de Ted, cospe em seu rosto e diz:
_Como espião amigo, você foi uma grande piada!
Em seguida, seu corpo é jogado ao rio, e desaparece engolido por suas águas!
          Josefo continuava lutando por sua vida quando escutou o som de dois disparos. Naquele momento, teve certeza que Ted estava morto! Continuou correndo o mais rápido possível, estava cansado, parar seria morte certa, já ouvia as vozes dos seus caçadores, precisava continuar fugindo, viu uma luz próxima, era uma casa, havia uma chance! Correu em sua direção, precisava entrar antes que o avistassem, bateu na porta e gritou apavorado.
_ Abra, por favor! Abra rápido pelo amor de Deus! Abra...
_ Estou indo, calma!
          Disse uma voz feminina lá de dentro. Ele entrou apressadamente, avistou uma jovem senhora assustada que o interrogou.
_ O que está acontecendo, por que toda esta gritaria na porta?
_ Preci... Preciso de ajuda senhora, descobri algo comprometedor, tem alguns homens querendo-me à vida!
_ Você é algum tipo de malfeitor?
_ Não senhora! Sou Cristão protestante e é por isso que querem me matar!
_E o que você descobriu homem?
_Há um plano para exterminar todos os protestantes em Boêmia, dele fazem parte o rei Fernando, os cardeais, padres Jesuítas, e outras autoridades! Além disso, existe um impostor entre os protestantes!
_E o que você pretende fazer?
_Denunciar este intento, para que possamos nos armar, nos defender! Além disso, quero desmascarar aquele maldito mentiroso perante toda a cidade, com sorte o verei balançando na ponta de uma corda!
          A dona da casa era uma linda mulher, de lábios finos, nariz delicado e bem desenhado, seus olhos eram tão azuis como o céu em dias de sol, cabelos longos e loiros, suas roupas eram humildes, pois não esperava visitas, entretanto, não escondiam sua admirável beleza! Ela estava só, seu marido ainda não havia chegado, por um momento arrependera-se ter aberto a porta, no entanto, percebeu que estava fazendo um serviço para Deus!
_Rápido se esconda no quarto dos fundos, eles estão chegando!
          Josefo entrou no quarto e procurou onde esconder-se caso não acreditassem naquela jovem senhora, encontrou uma cama e um pequeno guarda roupa, o suficiente para escondê-lo, respirou fundo, reparou que deixava marcas no assoalho, imediatamente pegou algumas roupas e limpou o chão, logo em seguida, entrou no armário.
_ Abra a porta – ordenou o sargento aos gritos – abra a porta, em nome do rei e do Cardeal, agora!
_ Só um minuto!
_ Abra agora senhora!
          A mulher respirou fundo, observou se estava tudo em ordem e depois calmamente abriu a porta.
_ Pronto viu não demorou nada! Posso saber o que isso significa?
_ Estamos à procura de um criminoso, senhora!
_ O crime dele, por acaso foi contra a santa igreja Apostólica Católica Romana? - quis saber ela.
_ Por certo que sim - disse o sargento sorrindo sinicamente.
          A mulher teve então certeza que estava a serviço de Deus.
_ Ninguém passou por aqui nesta noite sargento – disse-lhe apontando com a cabeça para o quarto.
          O sargento e seus mercenários entraram cuidadosamente no quarto, olharam em baixo da cama e avistaram o guarda roupa, ergueram suas armas e dispararam fogo contra o móvel! Em seguida abriram-no, encontraram somente roupas destruídas, apenas depois puderam perceber a janela em noite fria aberta e a cortina balançando!
          Josefo, não gostou da reação daquela senhora quando contou-lhe sobre o intento maligno que se avoluma contra os protestante de Boêmia, e ao vê as inúmeras imagens espalhadas pela casa, achou mais prudente continuar correndo a se esconder no armário.
          A caçada continuava ferozmente, Josefo estava exausto, conseguira uma dianteira, porém sabia que era questão de tempo até ser alcançado, avistou o rio grande, que dava limites à cidade, sentiu-se em casa. Porém, a perseguição continuava e a ponte com certeza estaria sendo vigiada, procurou então desesperadamente um bote, o tempo estava se passando, sua dianteira era pouca, precisava tomar uma atitude naquele momento, sem pensar, mergulhou no rio grande, suas águas eram geladas e ainda havia a correnteza a ser vencida, a luta pela vida dava-lhe forças para continuar nadando, braçada a braçada a cidade se aproximava e aumentava sua esperança. Não sabia ele, porém, que estava sendo o tempo todo vigiado por olhos não humanos. Chegando à outra margem, o frio e o cansaço eram extremos, à cidade poderia ser vista e sua salvação também. Ouviu o ruído de cavalos, escondeu-se mais uma vez, instintivamente pegou uma pedra, pode vê que eram dois homens naquele momento. Josefo era jovem e franzino, estava cansado, desarmado e apavorado, não havia como enfrentar dois homens fortes e armados, procurou torna-se invisível na escuridão da noite. O terror lhe assombra quando percebe um dos homens vindo em sua direção, passo a passo a distância entre ambos vai diminuindo, até que como um animal acuado, Josefo desfere um potente golpe com a pedra sobre a cabeça do seu algoz que grita antes de cair, o outro capanga saca sua arma, Josefo, porém é mais rápido, joga-se ao chão e com estranha força e agilidade o alveja antes que pudesse reagir.
          Conseguiu chegar à cidade, a felicidade e o alívio brotaram no seu rosto, lembrou-se do Ted e chorou pelo amigo. Neste momento a cidade foi despertada por um único disparo! Josefo sentiu o sangue correr-lhe pelo corpo, ajoelhou, ergueu sua cabeça e contemplou um mar de estrelas que iluminavam Boêmia naquele instante, levantou suas mãos e como se estivesse orando tombou sem vida!



   


  

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